Mulheres pioneiras no cenário canábico internacional

Nesse mês de março, em que comemoramos o dia internacional da mulher, não podíamos deixar de homenagear algumas delas que estão à frente dessa batalha contra o preconceito sempre á favor da ciência e da promoção de saúde sem estigmas ou paradigmas.

O universo canábico não podia ser diferente do que vivemos, as mulheres quando estão na liderança ou no pioneirismo de qualquer situação, elas se destacam pela forma como conduzem assuntos tão estigmatizados ao longo do tempo.

“Para a população camponesa européia da Idade Média, as mulheres reconhecidas como ‘bruxas’ eram membros fundamentais da comunidade. Elas eram normalmente mais velhas, acumulavam muitos anos de experiência e dominavam os saberes necessários para lidar com a vida e a morte: a dose correta para curar uma doença, o procedimento preciso na hora do parto, as plantas capazes de promover abortos, as ervas que causavam alívio durante o falecimento. Como define o historiador francês Jules Michelet (1798-1874): “A ela se pede a vida, a morte, remédios, venenos”.

É justamente daí que vem a imagem da bruxa como uma idosa, tendo o caldeirão como companheiro inseparável (onde se misturavam os ingredientes dos seus preparados). Nas suas comunidades, elas não eram vistas como más ou perversas por natureza; eram chamadas de ‘mulheres sábias’ em várias línguas, e participavam ativamente da vida comum. Em alguns casos, cobravam pequenos valores pelos seus feitiços; em outros, apenas os faziam enquanto membro da comunidade que cumpre o seu papel. Seja como for, entre as populações campesinas da Europa, elas eram as médicas, as conselheiras, as guardiãs da vida e da morte.

Durante dez séculos de hegemonia do Cristianismo no Ocidente, a Igreja tolerou práticas consideradas ‘pagãs’ em toda a Europa, de modo que as crenças tradicionais de diversos povos permaneceram vivas e, em muitos casos, sincretizadas ao Catolicismo. Porém, no final do século 14 e meados do século 15, houve severa investida contra tudo que contrariasse os dogmas cristãos – e as mulheres sábias se tornaram um alvo preferencial da ira dos então chamados inquisidores.”

Não podia ser diferente nos dias de hoje, em que as mulheres listadas aqui, enfrentaram e enfrentam os olhares dos julgadores da sociedade, mas ainda assim, permanecem íntegras, fiéis e imbatíveis.

Dra Bonni Goldstein

Como médica licenciado há 27 anos na Califórnia EUA, com foco em cannabis medicinal na última década, viu milhares de adultos e crianças melhorarem a qualidade de suas vidas com cannabis. O Canna-Centers Wellness é um centro clínico dedicado a educar e aprovar pacientes qualificados para tratamento com cannabis e o Centro Educacional oferece seminários em sala de aula e webinars ao vivo sobre tudo relacionado à cannabis. Autora do livro, Cannabis Revealed: How the world’s most incompreendido plant está tratando tudo, desde dor crônica à epilepsia.

A Dra. Goldstein é uma palestrante frequente e apresentou seus resultados clínicos em várias conferências médicas, mais recentemente na Conferência de Ensaios Clínicos em Cannabis em Londres, Reino Unido e no Simpósio de Consenso de Maconha Medicinal e Autismo no Hospital Infantil da Filadélfia. Ela apareceu várias vezes no programa de TV “The Doctors” e atualmente é destaque no documentário da Netflix “Weed the People”.

Dra Rachel Knox

Dra. Rachel Knox, MBA é especialista em medicina canabinóide e endocanabinologista clínica que recebeu seus diplomas médicos e de negócios da Tufts School of Medicine após concluir seus estudos de graduação na Duke, no estado da Carolina do Norte EUA. Ela treinou em medicina de família e integrativa antes de prosseguir estudos adicionais nas áreas de medicina funcional, canabinologia e endocanabinologia.

Junto com sua família, a Dra. Rachel fundou a Doctors Knox, Inc., a American Cannabinoid Clinics e a Pivital Edu para promover a educação em medicina canabinóide e no cuidado clínico do endocanabinoidoma.

A Dra. Rachel também é consultora de políticas e regulamentações sobre cannabis e psicodélicos, e seu compromisso com a reforma se estende à educação de comunidades de cor sobre os papéis que a cannabis, os psicodélicos e outros medicamentos vegetais podem desempenhar na abordagem da lacuna de disparidade na saúde das minorias e no contexto mais amplo como essas plantas podem impactar o bem-estar total dessas comunidades por meio da equidade em saúde.

Ela é cofundadora e presidente do Cannabis Health Equity Movement™ (CHEM) e presidente da Association for Cannabis Health Equity and Medicine ( ACHEM ) e da CHEM Allyance . Ela atua em seu estado natal, Oregon, como ex-presidente imediata da Comissão de Cannabis do Oregon, membro da Equipe de Supervisão da Política de Cannabis de Portland, membro do Conselho Consultivo de Psilocibina do Oregon e membro do conselho do NuLeaf PDX; e também faz parte de vários conselhos nacionais, incluindo Cannabis Regulators of Color Coalition ( CRCC ), Doctors for Cannabis Regulation ( DFCR ), Minority Cannabis Business Association ( MCBA ), American Academy of Cannabinoid Medicine ( AACM ) e US Cannabis Council.

Dra Paula Dall Stella

Paula Dall’Stella é médica especializada na promoção da saúde e na melhoria da qualidade de vida, a partir da sua formação em medicina funcional e de um profundo conhecimento sobre o potencial terapêutico da cannabis medicinal.

Médica, Ultrassonografista Geral pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HCFMUSP). Pós-graduada em Neuro-oncologia pelo Hospital Sírio Libanês (HSL) e graduada no Institute for Functional Medicine (IFM-USA). Coordenadora do primeiro Simpósio Internacional no Uso dos Canabinóides na Neuro-Oncologia no SNOLA 2016. É fundadora da escola com foco em educação médica em endocanabinologia e Cannabis para fins medicinais, a Sativa Global Education. Atualmente faz parte do grupo docente do curso Diploma de Estudios Avanzados en Endocannabinologia, Cannabis y Canabinnoides pela Universidade Nacional de Rosario, Argentina. Palestrante nacional e internacional sobre a relação entre nosso estilo de vida e o sistema endocanabinóide, assim como as aplicações clínicas da Cannabis para fins medicinais. Faz parte da equipe do Núcleo de Cannabis medicinal do Hospital Sírio Libanês (HSL). Publicou o primeiro Case Report de pacientes neuro-oncológicos em tratamento convencional associado ao uso dos canabinóides. Membro da The International Cannabinoid Research Society (ICRS), membro da International Association for Cannabis as Medicine (AICM) e membro da Society of Cannabis Clinicians (SCC).

Dra Eliane Nunes

Médica, formada na Unesp, no campus Botucatu com especialização em Psicanálise Infantil pelo Instituto Sedes Sapientiae – São Paulo. Idealizadora e fundadora da Sociedade Brasileira de Estudos da Cannabis Sativa – SBEC, entidade sem fins lucrativos, criada para fomentar políticas públicas na área de Cannabis Medicinal e promover estudos científicos e atualmente sou a diretora geral. 

Implantou o Fórum de Cannabis Sativa na Câmara Municipal de São Paulo e coordenou do I ao V Fórum.

Doutora em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – FMUSP (2008). Título da tese: Adolescência e Corpo: a prostituição e o abuso de droga como um sintoma.

Autora e idealizadora do Tratado de Cannabis Medicinal, que virá á ser publicado no primeiro semestre de 2022 com mais de 80 coautores.

Atualmente uma das personalidades mais importantes na frente de batalha contra o preconceito no estado de SP e no Brasil. Também parceira do querido Padre Ticão na formação de cursos de capacitação de cultivo, extração e prescrição.

Luna Vargas

A antropóloga goiana Luna Vargas mora atualmente em Vancouver, no Canadá, onde atua como educadora e curadora em um dispensário de uma empresa familiar de maconha legalizada.

Com o passar dos anos e com sua formação nas Ciências Sociais, paralelamente sempre conduziu estudos sobre os aspectos culturais e sociais da planta, inclusive visitando o Marrocos algumas vezes enquanto fazia o mestrado em Antropologia na França. Seu primeiro contato com a maconha legal e medicinal foi em 2016, durante uma visita à Califórnia, nos EUA.

Sofrendo de fortes cólicas causadas por um DIU de cobre, ela experimentou um supositório à base de cannabis. “Aí tudo mudou. Esse supositório tirava a minha cólica em três minutos. Era uma coisa que eu não conseguia levantar, sair da cama, e em três minutos eu podia dançar”, resume. Impactada pela experiência, ela mergulhou em estudos sobre a ciência por trás da planta.

No final de 2018, ela decidiu ir para o Canadá acompanhar a legalização por lá. “Mais do que estudar ciência, eu queria estar nesse processo de transição da sociedade, ainda no campo bem social da cannabis”, conta. “Quando eu cheguei aqui, eu descobri um mercado gigante, com pessoas maravilhosas. Na época, aqui em Vancouver havia mais de 100 dispensários”. 

Luna Vargas se envolveu em palestras, congressos e seminários e decidiu entrar para o mercado. Para isso, teve que estudar mais e ingressar na cadeia produtiva. “Estudei Química Orgânica, algo que é fora da minha formação. Comecei a trabalhar como todo mundo começa nessa indústria, que é como budtender, um atendente em uma loja de cannabis”, explica. “É uma encruzilhada entre um farmacêutico e um atendente porque você está vendendo um produto como em qualquer loja, mas ao mesmo tempo precisa fazer uma triangulação entre o que a pessoa quer, do que você tem disponível e do que será melhor para ela”.

Foi aí que Luna Vargas também começou a encontrar o seu lugar como educadora canábica. Esse é um dos trabalhos que Luna Vargas faz até hoje, treinando budtenders e aqueles interessados em ingressar no mercado da cannabis. Ela também atua como curadora, que é o trabalho de acompanhar a pesquisa na parte dos produtos: métodos de extração, qualidade, seus efeitos, segurança.

Fundadora da Inflore, presente em 8 países aonde ensina como adentrar à indústria da cannabis e pioneira no ramo aqui no cenário nacional.

Barbara Arranz

A primeira vez em que a empreendedora Barbara Arranz, 33, ouviu falar sobre o uso medicinal das propriedades da maconha foi na adolescência, quando uma tia precisou fazer o tratamento para esclerose múltipla. Ela não imaginava que, no futuro, aquela descoberta se tornaria um negócio promissor, que lhe traria um faturamento de R$ 3 milhões em menos de um ano.

O interesse pelo tema surgiu depois que Arranz teve seu terceiro filho, Raul, que nasceu com Síndrome de Asperger. Nessa época, ela cursava faculdade de biomedicina.

Arranz se especializou em tratamentos com cannabis na Learn Sativa University, na Flórida (EUA). O conhecimento adquirido e a demanda observada apontaram que havia um nicho carente a ser explorado. “Não sei explicar como, mas despertou em mim esse sentimento empreendedor: eu precisava trabalhar com a maconha, seja pelos fins medicinais, como o do filho, ou skin care e cosméticos, para tratamentos dermatológicos.” Pioneira no Brasil nesse mercado, ela criou a Linha canábica da Ba.

Mas como colocar essa ideia em prática no Brasil? Em meados de 2018, Arranz pesquisou e descobriu que um dos melhores mercados para se empreender neste ramo seria a Espanha. Ela decidiu, então, que se mudaria com a família para o país europeu. A ideia seria fabricar os produtos por lá e vender para o Brasil, uma vez que a importação de medicamentos à base de canabidiol é permitida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), sob prescrição médica, desde 2015.

A empreendedora estruturou uma equipe para a produção dos itens em Madri e outra para atendimento aos consumidores e logística no Brasil. Hoje, são 45 pessoas no total – 28 só na Espanha –, fora os prestadores de serviço terceirizados. Arranz estima que tenha investido cerca de R$ 400 mil desde o início da empresa.

São tantas outras que poderíamos estar homenageando hoje mas como mártires, estas são representantes de outras milhares ou milhões que batalham e criam formas de ultrapassar as barreiras que a sociedade impõe. Servem como exemplos de força, dedicação e resistência.

Dr. João Carlos Normanha e equipe do Instituto de Medicina Orgânica

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