Efeito Comitiva: utilização de extratos da planta inteira e uma comitiva de efeitos

     A cannabis possui em sua composição, diga-se de passagem conhecidos até hoje, 104 diferentes compostos bioativos também chamados de compostos canabinóides. São diferentes estruturas biomoleculares, de diferentes bases bioquímicas, que apesar de distintas, se fazem presentes, ora em menores concentrações ora em maiores, no interior do organismo vivo de uma planta como qualquer outra.

E essa mistura de substâncias, que possuem diferentes intensidade de atuações e ás vezes até contrárias, atuam no equilíbrio que a natureza proporcionou á aquela planta, para que fosse um indivíduo equilibrado e harmônico, dentro das limitações e vantagens que cada uma delas possui.

Diante da idéia de que, por estarem em maiores concentrações e serem os responsáveis pela maioria dos efeitos, o THC e o CBD ganharam o status de protagonista no capítulo que se trata da farmacodinâmica e dos mecanismos de ação, estudados na maioria das pesquisas pelo mundo científico atual.

Mas com o passar do tempo, os outros compostos como os terpenos ou até mesmo os outros derivados canabinóides, que sabidamente têm pouco ou nenhum efeito sobre os receptores CB1 ou CB2, demonstraram ter forte efeito sobre a própria atuação dos compostos principais, aumentando a resposta nesses receptores de forma indireta, ou seja, usando o CBD e o THC como instrumentos indiretos para a sua ação farmacológica.

Em alguns casos, o THC ou CBD passaram a ter seus efeitos intensificados ou bloqueados, devido á presença desses outros compostos, levando a crer que o tal equilíbrio existente gerando o resultado pessoal de cada planta, já existia desde quando semente ou antes, quando ainda só possui DNA que é seu material genético incorporado á sua planta materna.

Ora se isso é verdade, então não devíamos tentar isolar um ou outro procurando o efeito desejado, quando partimos do pressuposto que aquela ou tal planta deve atender a nossa necessidade, perdemos em muito na possibilidade de conhecer ou encontrar a genética certa para termos o efeito comitiva desejado.

A comitiva de efeitos deverá ser sempre em prol da ações que a planta oferece, e não à aquela que nos atende. O controle de danos e os possíveis indesejados efeitos, podem ser melhor controlados e teríamos a certeza que estaríamos ainda sim lidando com os preceitos que regem a natureza, e não á áqueles modificados pela razão humana.

Uma pesquisa publicada no Molecular Cancer Therapy, em 2010, sobre o tratamento de células de glioblastoma, o mais prevalente tumor maligno cerebral, com cannabis medicinal, tendo realizado experimentos com células cancerosas em cultura, retiradas de lesões advindas do tratamento cirúrgico de alguns pacientes, afim de obter um melhor entendimento á respeito dos mecanismos de ação dos canabinóides.

Diante da análise dos resultados, foi demonstrado que naquele tipo específico de tumor, a associação dos compostos THC e CBD e demais componentes, levou a modulações significativas do ciclo celular e indução de espécies reativas de oxigênio e apoptose, bem como modulações específicas de atividades de cinase reguladas por sinal extracelular.

Essas mudanças específicas não foram observados com nenhum composto individualmente, indicando que os caminhos de transdução de sinal afetados pelo tratamento combinado foram únicos. Nossos resultados sugerem que a adição de cannabidiol ao Δ9 -THC pode melhorar a eficácia global da cannabis medicinal no tratamento do glioblastoma em pacientes com câncer.

Lembrando que foi uma pesquisa realizada com pouca expressividade devido ao número reduzidos de pacientes envolvidos e de que, o mecanismo de ação foi analisado in vitro, nas

células tumorais em cultura nos laboratórios. Seria preciso estudos sobre o impacto dessas substâncias in vivo, ou seja, realizada nos indivíduos portadores dessas neoplasias.

 

Dr. João Carlos Normanha RIbeiro

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